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Friday, September 30, 2011

Brasil: «ameo» ou «deicheo»

Leitor assíduo das crónicas de Duda Guennes, em «A Bola», aqui reproduzo uma, com a devida vénia, no dia em que nos deixou para sempre. Ler os seus belos textos é a melhor homenagem.

Esta hebdomadária coluna está sempre a receber novidades do Brasil. Esta é uma relação actualizada das pérolas estudantis escritas nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio. Transcrevo-as, respeitando a grafia original:
«O seromano tem uma missão»;
«O Euninho já provocou secas e enchentes calamitosas»;
«O problema ainda é maior se tratando da camada Diozanio»;
«Enquanto isso os Zoutros... tudo baixo niveu»;
«A situação tende a piorar: os madeireiros da Amazónia destroem a Mata Atlântica da região»;
«O que é de interesse colectivo de todos nem sempre interessa a ninguém individualmente»;
«Não preserva apenas o meio ambiente e sim todo ele»;
«O grande problema do Rio Amazonas é a pesca dos peixes»;
«É um problema de muita gravidez»;
«A AIDS é transmitida pelo mosquito AIDES EGIPSIO»;
«Já está muito de difícil de achar os pandas na Amazónia»;
«A natureza brasileira tem 500 anos e já esta quase se acabando»;
«O cerumano no mesmo tempo que constrói, também destrói, pois nós temos que nos unir para realizarmos parcerias juntos»;
«Vamos mostrar que somos semelhantemente iguais uns aos outros»;
«Menos desmatamentos, mais florestas arborizadas»;
« [...] provocando assim o desolamento de grandes expécies raras»;
«Nesta terra ensiplantando tudo dá»;
«Isso tudo é devido ao raios ultraviolentos que recebemos todo dia»;
«Tudo isso colaborou com a estinção do micro-leão dourado»
«Imaginem a bandeira do Brasil. O azul representa o céu, o verde representa as matas, e o amarelo o ouro. O ouro já foi roubado e as matas estão quase se info. No dia em que roubarem o céu, ficaremos sem bandeira»;
«Ultimamente não se fala em outro assunto anonser sobre as araras azuis que ficam sob voando as matas»;
«[...] são formados pelas bacias esferográficas»;
«Precisa-se começar uma reciclagem mental dos humanos, fazer uma verdadeira lavagem celebral em relação ao desmatamento, poluição e depredação de si próprio»;
«O seringueiro tira borracha das árvores, mas nunca derrubam as seringas»;
«Vamos deixar de sermos egoístas e pensarmos um pouco mais em nós mesmos».

Exame de geografia

Já que estamos falando de exames, tem aquela do professor que perguntou ao aluno quantas eram as partes do mundo. Para ajudá-lo, avançou que eram tantas como as vogais. Aí, o aluno respondeu que eram cinco.
— Quais são?
— A, E, I, O, U.
— Essas são as vogais, não são as partes do mundo. Vamos ver se se lembra. Começam também por A... Ásia...
— Já sei... Ásia, Ésia, Ísia, Ósia e Úsia.

Duda Guennes
Duda Guennes, autor da crónica semanal «Meu Brasil Brasileiro», a mais antiga da imprensa portuguesa, em «A Bola», faleceu hoje. Uma selecção dessas crónicas está publicada em livro, com o mesmo nome. «Bom de papo, Duda sabe infindáveis histórias, incluindo muitas pequenas e deliciosas histórias (...), engraçadas, invulgares, interessantes. Bem achadas e bem contadas. Confesso devoto de Nélson Rodrigues e Armando Nogueira, Duda tem uma forma peculiar de lhes pegar, uma escrita leve, solta, desenvolta. Em suma: é um magnífico cronista», escreve José Carlos de Vasconcelos, no prefácio. Não resisto a partilhar (com a devida vénia...) uma crónica deliciosa do Duda, em jeito de homenagem.

Trava-língua

«A aranha arranha a jarra, a jarra arranha a aranha; nem a aranha arranha a jarra nem a jarra arranha a aranha.»

«O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo, que o tempo tem tanto tempo, quanto tempo o tempo tem.»

Trava-língua (enrola língua ou parlenda) é um pequeno texto, rimado ou não, de pronunciação difícil, que pode provocar hiatos, paráquemas ou cacófatos. Pois o velho trava-língua está a deixar de ser apenas brincadeira de crianças, exercício de dicção teatral ou lição contra a gagueira para ser matéria adoptada em várias estâncias no capítulo da auto-estima. Pessoas que querem perder o medo de se expor, de errar, que têm acanhamento, timidez e vergonha de se comunicar estão aprendendo a se soltar com a utilização de trava-línguas. É fundamental para o desbloqueio da expressão, para ajudar os interessados em soltar a língua e aprender a falar bem nas relações pessoais e nas profissionais.
Saindo do universo infantil, o trava-língua passou a ser usado no teatro e na expressão corporal, e logo se percebeu que era uma arma utilíssima para contornar dificuldades em se expressar. Porque, quando a pessoa se solta, a linguagem começa a fluir naturalmente. Hoje, a velha brincadeira infantil merece ser estudada no campo de linguística e da semiologia, e já é encarada como uma nova cadeira: a linguistoterapia.
Tudo indica que Amadeu Amaral e Alcides Bezerra foram os autores do termo trava-língua. É também conhecido como parlenda. Serve como obstáculo ou problema para desenferrujar a língua, porque quando dita pelas pessoas com rapidez enrola a língua de quem a está pronunciando.
Muitos trava-línguas, quando pronunciados ou cantados de maneira rápida, resultam em cacofonia (sons desagradáveis ou palavras obscenas, resultantes da união das sílabas finais de uma palavra com as iniciais da seguinte). É um recurso muito utilizado por repentistas para derrotar o adversário em pelejas. Podem aparecer também em forma de quadra: ficou famoso o desafio entre os cantadores Zé Pretinho e o Cego Aderaldo. Este último improvisou um trava-língua que deixou o adversário totalmente atordoado, sem poder repetir o mote: «Quem comprar a paca cara/paca cara pagará. / Pagará cara a paca/quem comprar a paca cara...»

Jararaca e Ratinho, famosa dupla do tempo de ouro da rádio, deixaram registada essa parlenda:

«Um sapo dentro do saco
O saco com o sapo dentro
O sapo batendo o papo
E o papo cheio de vento.»


Há outras:

«Num ninho de mafagafos
Seis mafagafinhos há;
Quem os desmafagafizar,
Bom desmafagafizador será.»


E mais:

«Lá vem o velho Félix
Com um fole velho nas costas
Tanto fede o velho Félix
Como o fole do velho Félix fede.»

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