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Saturday, October 15, 2011

Valha-me Sigmund Freud!

Não é da idade, juro, esta sina de me esquecer dos nomes das pessoas. Fixo as caras, os locais, mas quanto a nomes... nada! Ainda adolescente, li um ensaio de Freud («Psicopatologia da Vida Quotidiana») em busca de resposta. Pouco entendi! Feito adulto, reli-o, pensando que derivasse da verdura juvenil a minha incapacidade de alcançar luz sobre a leitura freudiana. Continuei na mesma, como igual permanece esta minha fraqueza. Num restaurante, surge alguém que não vejo há anos; no cinema, cruzo-me com uma cara bem conhecida – mas o nome não me ocorre.
Pessoa amiga já sabe que o truque é afastar-se discretamente por uns instantes, para eu não ter de apresentá-la, porque passados uns segundos a imagem vaga começa a delinear-se-me em contornos claros... e o nome estala! Outras vezes demora mais tempo. Não raro surge quando vou a conduzir ou antes de adormecer.
Já percebi que tem a ver com o contexto. Se em Lisboa encontro alguém que conheci no Algarve ou em Montes da Senhora se me depara um sujeito que encontrei em Castelo Branco, fico despistado. Há tempos, num restaurante do Bairro Alto, dei comigo a conversar com um personagem familiar. Foi o meu último acidente! O seu nome ficou-me encalhado num neurónio qualquer... Eu dava voltas ao miolo para encontrar uma saída e arrisquei: «Olha o Carvalho Araújo!» Ele veio em meu socorro: «Acho que estás a fazer confusão... Carvalho Araújo é o nome de uma rua ali para os lados da Praça do Chile. Eu sou o... Carvalho dos Santos!»
Fiquei aborrecido e revelei-lhe esta antiga falha de um fusível na minha memória. Que se mistura, por vezes, com outra deficiência: perder-me nos parentescos. Quando me dizem que X é sobrinho-neto do pai de Y, boa noite! Quando a minha mãe me diz que faleceu o fulano tal que era casado com a fulana tal, primo de não sei quem, e se põe a dissertar sobre as ligações genealógicas... mudo de assunto!
Valha-me Sigmund Freud!

Friday, October 14, 2011

Guia prático (mínimo) do hífen

Confesso alguma relutância em aderir ao novo acordo ortográfico. Sinto arrepios quando leio textos abrasileirados na «Visão» e noutras publicações, mas enfim, se calhar fiquei «velho do Restelo» sem me dar conta... Para os rapazinhos como eu, resolvi partilhar o guia prático (mínimo) do hífen, que tanto me ajudou nos tempos de revisor (à moda antiga...).

Ab (antes de R)
Ad (antes de R)
Além (por possuir acento gráfico)
Ante (antes de H)
Anti (antes de H-I-R-S)
Aquém (por possuir acento gráfico)
Arqui (antes de H-I-R-S)
Auto (antes de vogal-H-R-S)
Bem (antes de vogal-H)
Circum (antes de vogal-H-M-N)
Co (quando tem o sentido de a par)
Com (antes de vogal-H)
Contra (antes de vogal-H-R-S)
Entre (antes de H)
Ex (quando significa um estado anterior: ex-director)
Extra (antes de vogal-H-R-S)
Hiper (antes de H-R)
Infra (antes de vogal-H-R-S)
Inter (antes de H-R)
Intra (antes de vogal-H-R-S)
Mal (antes de vogal-H)
Neo (antes de vogal-H-R-S)
Ob (antes de R)
Pan (antes de vogal-H)
Pós (por ter acento gráfico)
Pré (por ter acento gráfico)
Pró (quando significa a favor de)
Proto (antes de vogal-H-R-S)
Pseudo (antes de vogal-H-R-S)
Recém (antes de qualquer palavra)
Semi (antes de H-I-R-S)
Sob (antes de B-H-R)
Sobre (antes de H)
Sub (antes de B-H-R)
Super (antes de H-R)
Supra (antes de vogal-H-R-S)
Ultra (antes de vogal-H-R-S)
Vice (quando o segundo elemento tem vida à parte)

Wednesday, October 12, 2011

Diz-se que as mulheres vivem mais tempo que os homens. Já li algo sobre o assunto, mas não me lembro onde e quando. Porém, se dúvidas tivesse, elas ficariam desfeitas ao visitar a (minha) bonita aldeia beirã de Monte do Trigo, no concelho de Proença-a-Nova (Beira-Baixa). Só recentemente dei conta de que grande percentagem dos moradores, já de idade avançada, é formada por mulheres. Poderia apresentar uma estatística de toda a aldeia (é pequena), mas limitei-me a contabilizar a Rua da Sobreira: das dez casas lá existentes, seis são habitadas por viúvas. Esta realidade pode ainda ser confirmada no cemitério da aldeia – aos domingos, a percentagem de mulheres junto às campas é muito maior que a dos homens.
Vultos de preto vagueiam pelas ruas. Quando nos cruzamos, a conversa desagua quase sempre nos males de que padecem – os da alma e os outros. As viúvas formam uma pequena comunidade e rezam muito. A religião é a sua âncora.
Gosto de visitar a aldeia, mas seria incapaz de viver lá muito tempo. Ao fim de alguns dias, o lado urbano chama por mim. Mas faz-me bem respirar ar puro, dialogar com gente de outras gerações, de outros mundos. Tenho imensas saudades do meu pai e do tio João Garrido. Quando eu chegava, este último aparecia escorado na bengala e os três rumávamos à sua adega, um esconderijo subterrâneo do tempo das invasões francesas, onde se bebia (e ainda bebe, graças ao João) um vinho divinal. Eu desligava e eles viajavam pelas suas memórias...
Quando estou na aldeia, fico com a mente mais disponível para a reflexão. Não acredito em deuses, mas dão muito jeito... Que seria destas viúvas sem o seu deus protector?

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