Thursday, October 14, 2004
Diário d'Alguém
Algures, 8 de Agosto de 2004
Sentada à frente de uma folha de papel em branco, enfrento um dos meus maiores medos enquanto futura jornalista. Sem ter a mínima noção do que hei-de escrever, rabisco qualquer coisa à espera de um «clique» na zona cerebral encarregada da criatividade.
Pedes-me que escreva algo e tento satisfazer o pedido descrevendo o som do comboio que passa a cinco metros do meu lar e faz estremecer o candeeiro que me ilumina a escrita ou a sensação de conforto que tenho ao escutar o ronronar dos meus gatos sempre que lhes faço festas. Hoje o céu está limpo e consegue-se ouvir os grilos lá fora a cantar. Recordo a minha infância passada no campo em que valia a pena dormir ao relento só para sentir aquela brisa de Verão.
Oiço a torneira a pingar. Espera um pouco! Volto já! Vou fechá-la correctamente.
Está um silêncio ensurdecedor. De tal forma que consigo ouvir o bater do meu coração. Tum-tum-tum-tum. Parece uma máquina a trabalhar para manter toda a fábrica activa.
O computador espera impacientemente que digite a minha folha de diário.
Xiu «Maggie»! Não faças barulho! É muito tarde!
A «Nina» come granulado. Os biscoitos partem-se na sua boca. «Balzac» dorme, como sempre, aninhado no chão à espera que me vá deitar.
O cansaço começa a percorrer o meu corpo. Sinto-o a correr nas minhas veias. Quase oiço a almofada a chamar-me, dizendo: «Poisa a tua cabeça e garanto-te uma boa noite de sono...»
Vou seguir o seu conselho.
Inês Ribeiro Sequeira
Algures, 8 de Agosto de 2004
Sentada à frente de uma folha de papel em branco, enfrento um dos meus maiores medos enquanto futura jornalista. Sem ter a mínima noção do que hei-de escrever, rabisco qualquer coisa à espera de um «clique» na zona cerebral encarregada da criatividade.
Pedes-me que escreva algo e tento satisfazer o pedido descrevendo o som do comboio que passa a cinco metros do meu lar e faz estremecer o candeeiro que me ilumina a escrita ou a sensação de conforto que tenho ao escutar o ronronar dos meus gatos sempre que lhes faço festas. Hoje o céu está limpo e consegue-se ouvir os grilos lá fora a cantar. Recordo a minha infância passada no campo em que valia a pena dormir ao relento só para sentir aquela brisa de Verão.
Oiço a torneira a pingar. Espera um pouco! Volto já! Vou fechá-la correctamente.
Está um silêncio ensurdecedor. De tal forma que consigo ouvir o bater do meu coração. Tum-tum-tum-tum. Parece uma máquina a trabalhar para manter toda a fábrica activa.
O computador espera impacientemente que digite a minha folha de diário.
Xiu «Maggie»! Não faças barulho! É muito tarde!
A «Nina» come granulado. Os biscoitos partem-se na sua boca. «Balzac» dorme, como sempre, aninhado no chão à espera que me vá deitar.
O cansaço começa a percorrer o meu corpo. Sinto-o a correr nas minhas veias. Quase oiço a almofada a chamar-me, dizendo: «Poisa a tua cabeça e garanto-te uma boa noite de sono...»
Vou seguir o seu conselho.
Inês Ribeiro Sequeira
Monday, October 04, 2004
Bob Dylan nunca quis ser ícone dos anos 60
O cantor e compositor Bob Dylan publica, finalmente, a sua autobiografia, na qual garante nunca ter desejado ser símbolo da geração rebelde dos anos 60. O ícone mundial admite ainda que vivia escondido em casa, com medo de hippies fanáticos. Sonhava ter uma vida normal e poder levar os filhos à escola.
Dylan odiava os hippies fanáticos: «O mundo era absurdo. Eu tinha poucas coisas em comum com uma geração que não conhecia e da qual se supunha que eu era um dos porta-vozes», escreve Bob Dylan, segundo excertos do livro publicados na revista «Newsweek».
«Sonhava com uma vida normal, trabalhar das nove às 17 horas, ter uma casa com árvores, uma cerca de madeira pintada de branco e rosas no jardim», confessa o cantor, cujo verdadeiro nome é Robert Allen Zimmerman. Dylan é capa da «Newsweek»: aos 63 anos aparece num quarto de hotel, com o seu eterno chapéu de vaqueiro e bigode fino.
O autor de obras-primas como «Blood on the Tracks» (1975), «Slow Train Coming» (1979) ou «Infidels» (1983) revela os primeiros anos da sua carreira em «Crónicas: Volume Um», de 304 páginas, que sairá no dia 12 de Outubro nos Estados Unidos, com uma tiragem inicial de 250 mil exemplares.
Dylan tinha 20 anos quando gravou o primeiro disco, basicamente uma miscelânea de versões de sucessos de blues e folk. A fama chegou depois, com «The Freewheelin Bob Dylan» (1963). Mas Dylan diz que se sentia como um manequim numa vitrina, enquanto no lado de fora passavam os anos 60. «Sentia-me como um pedaço de carne atirado aos cães», afirma, culpando a imprensa por colocá-lo no papel de «porta-voz e até da consciência de uma geração».
A paz interior chegou lentamente, nos anos 70 e 80. «Encontrei as coisas que preferia: acompanhar os meus filhos à escola, as férias no acampamento, no barco, na canoa e a pescar.»
«Escrever a minha biografia foi uma experiência emocionante», explica no jornal britânico «Telegraph». «Mas, para ser honesto, também vivi momentos de tédio.»
O cantor e compositor Bob Dylan publica, finalmente, a sua autobiografia, na qual garante nunca ter desejado ser símbolo da geração rebelde dos anos 60. O ícone mundial admite ainda que vivia escondido em casa, com medo de hippies fanáticos. Sonhava ter uma vida normal e poder levar os filhos à escola.
Dylan odiava os hippies fanáticos: «O mundo era absurdo. Eu tinha poucas coisas em comum com uma geração que não conhecia e da qual se supunha que eu era um dos porta-vozes», escreve Bob Dylan, segundo excertos do livro publicados na revista «Newsweek».
«Sonhava com uma vida normal, trabalhar das nove às 17 horas, ter uma casa com árvores, uma cerca de madeira pintada de branco e rosas no jardim», confessa o cantor, cujo verdadeiro nome é Robert Allen Zimmerman. Dylan é capa da «Newsweek»: aos 63 anos aparece num quarto de hotel, com o seu eterno chapéu de vaqueiro e bigode fino.
O autor de obras-primas como «Blood on the Tracks» (1975), «Slow Train Coming» (1979) ou «Infidels» (1983) revela os primeiros anos da sua carreira em «Crónicas: Volume Um», de 304 páginas, que sairá no dia 12 de Outubro nos Estados Unidos, com uma tiragem inicial de 250 mil exemplares.
Dylan tinha 20 anos quando gravou o primeiro disco, basicamente uma miscelânea de versões de sucessos de blues e folk. A fama chegou depois, com «The Freewheelin Bob Dylan» (1963). Mas Dylan diz que se sentia como um manequim numa vitrina, enquanto no lado de fora passavam os anos 60. «Sentia-me como um pedaço de carne atirado aos cães», afirma, culpando a imprensa por colocá-lo no papel de «porta-voz e até da consciência de uma geração».
A paz interior chegou lentamente, nos anos 70 e 80. «Encontrei as coisas que preferia: acompanhar os meus filhos à escola, as férias no acampamento, no barco, na canoa e a pescar.»
«Escrever a minha biografia foi uma experiência emocionante», explica no jornal britânico «Telegraph». «Mas, para ser honesto, também vivi momentos de tédio.»