Friday, June 25, 2004
Advérbio como protesto (continuação)
(parafraseando o BB)
Civicamente, Portugal vence a Inglaterra e «vinga-se», finalmente, da derrota no Mundial de 1966. Civicamente, nunca assisti a um jogo assim; civicamente, emoção à solta nas bancadas do Estádio da Luz, nas ruas de Lisboa, no Porto, nos Campos Elísios... e até em Montes da Senhora, a mais bonita aldeia portuguesa, terra de boas cerejas mas ausente dos roteiros turísticos. Ainda bem!
Civicamente, o primeiro golo (Owen) de Inglaterra faz-me sentir pequenino; civicamente, Postiga faz-me acreditar; civicamente, o golo de Rui Costa é o renascer da esperança; civicamente, Lampard faz-me pensar no poema do Alexandre O’ Neill: «Portugal, meu remorso, meu remorso de todos nós»; civicamente... os «penalties»; civicamente, Rui Costa não merece tamanho castigo ao falhar a grande penalidade; civicamente, o fado português: sofrer até à última gota de sangue; civicamente, há um «sofrimento» bom, quando comparado a outros sofrimentos; civicamente, Ricardo defende o «penalty», incentivado por «rei» Eusébio; civicamente, Ricardo marca o último «penalty»; civicamente, a explosão de alegria.
Civicamente, fico tolhido e, durante alguns minutos, não consigo escrever uma linha; civicamente, fumo um maço de cigarros; civicamente, as ruas do Bairro Alto enchem-se de gente colorida, alegre e bem bebida; civicamente, a frase bate forte na minha cabeça: «Portugal olé!»; civicamente, só consigo chegar a casa às três da manhã; civicamente, a multidão na Avenida da Liberdade, no Marquês de Pombal, na Avenida Fontes Pereira de Melo e na Avenida da República; civicamente, gente (aparentemente) feliz e com lágrimas; civicamente, o sono que não surge e aquela frase gravada no cérebro: «Portugal olé!»
[Civicamente, «a História é escrita pelos vencedores»; civicamente, «Scolari demorou tempo a perceber, mas agora é verdadeiramente um líder da equipa».]
Civicamente, veio-me à memória o «tal» jogo de Portugal com a Coreia, em 1966. Civicamante, «este» foi o mais emotivo da minha vida. Civicamente, uma coisa nunca vista!
[Civicamente, o professor Amaral Dias faz (na rádio) uma análise sociológica deste fenómeno que «abala» Portugal; civicamente, oiço-o até ao fim; civicamente, o sono chega; civicamente, hoje é novo dia e, muito civicamente, Durão Barroso prepara uma saída airosa do governo de um «país sucessivamente adiado».]
Civicamente...
(parafraseando o BB)
Civicamente, Portugal vence a Inglaterra e «vinga-se», finalmente, da derrota no Mundial de 1966. Civicamente, nunca assisti a um jogo assim; civicamente, emoção à solta nas bancadas do Estádio da Luz, nas ruas de Lisboa, no Porto, nos Campos Elísios... e até em Montes da Senhora, a mais bonita aldeia portuguesa, terra de boas cerejas mas ausente dos roteiros turísticos. Ainda bem!
Civicamente, o primeiro golo (Owen) de Inglaterra faz-me sentir pequenino; civicamente, Postiga faz-me acreditar; civicamente, o golo de Rui Costa é o renascer da esperança; civicamente, Lampard faz-me pensar no poema do Alexandre O’ Neill: «Portugal, meu remorso, meu remorso de todos nós»; civicamente... os «penalties»; civicamente, Rui Costa não merece tamanho castigo ao falhar a grande penalidade; civicamente, o fado português: sofrer até à última gota de sangue; civicamente, há um «sofrimento» bom, quando comparado a outros sofrimentos; civicamente, Ricardo defende o «penalty», incentivado por «rei» Eusébio; civicamente, Ricardo marca o último «penalty»; civicamente, a explosão de alegria.
Civicamente, fico tolhido e, durante alguns minutos, não consigo escrever uma linha; civicamente, fumo um maço de cigarros; civicamente, as ruas do Bairro Alto enchem-se de gente colorida, alegre e bem bebida; civicamente, a frase bate forte na minha cabeça: «Portugal olé!»; civicamente, só consigo chegar a casa às três da manhã; civicamente, a multidão na Avenida da Liberdade, no Marquês de Pombal, na Avenida Fontes Pereira de Melo e na Avenida da República; civicamente, gente (aparentemente) feliz e com lágrimas; civicamente, o sono que não surge e aquela frase gravada no cérebro: «Portugal olé!»
[Civicamente, «a História é escrita pelos vencedores»; civicamente, «Scolari demorou tempo a perceber, mas agora é verdadeiramente um líder da equipa».]
Civicamente, veio-me à memória o «tal» jogo de Portugal com a Coreia, em 1966. Civicamante, «este» foi o mais emotivo da minha vida. Civicamente, uma coisa nunca vista!
[Civicamente, o professor Amaral Dias faz (na rádio) uma análise sociológica deste fenómeno que «abala» Portugal; civicamente, oiço-o até ao fim; civicamente, o sono chega; civicamente, hoje é novo dia e, muito civicamente, Durão Barroso prepara uma saída airosa do governo de um «país sucessivamente adiado».]
Civicamente...
Tuesday, June 22, 2004
Advérbio como protesto
(parafraseando BB)
Civicamente, ainda não vi por aí sinais da tão propalada «retoma económica», mas os portugueses, muito civicamente, marimbaram-se para a economia, a inflação, o desemprego, os salários em atraso e outras tantas chatices do nosso espaço social. Tudo porque, civicamente, o futebol se transformou na única razão da sua existência.
Civicamente, a cerveja é agora o vinho da nossa vingança, o Rossio a capital de uma Europa que de repente ficou mais crescida, cívica e futebolizada.
Civicamente, o Iraque e a Casa Pia deixaram de constar no mapa das SIC’s e das TVI’s e os únicos que se safaram, no meio deste «terramoto» em forma de arco-íris, foram o Sousa Tavares e o Marcelo, porque, civicamente, são muito mais espertos que o Prado Coelho, que gosta muito de falar de coisas que não interessam peva ao zé-povinho e depois, civicamente, leva com as críticas do Perestrelo, muito cívico-luso-brasileiras, antes de uma tal segunda batalha de Aljubarrota do século XXI.
Civicamente, o patrão de Mourinho atracou os seus barquitos ali para os lados de Santa Apolónia e os lisboetas andam mortinhos por espreitar o novo czar Abramovich, que, muito civicamente, gosta de misturar caviar com salmonetes de Setúbal, por isso trouxe um helicopterozito para atravessar o Tejo e não ter de sujeitar-se às bichas intermináveis que tantos malefícios causam ao meu amigo Aguinaldo que mora no Fogueteiro.
Civicamente, vem aí o Portugal-Inglaterra e, muito civicamente, estou com os nervos em franja, depois de, muito civicamente, um puto de 18 anos, que dá pelo nome de Rooney, ainda por cima com carinha de imberbe, ter marcado aqueles dois golitos à Croácia, ofuscando, vejam só!, um tal «spice» Beckham.
Civicamente, é isso, um estranho formigueiro invadiu-me nestes últimos dias e, embora tardiamente, amanhã vou a correr comprar uma bandeirinha para colocar na janela. Pelo menos sempre alivio a consciência e, por outro lado, evito os comentários cívicos da minha vizinha Ermelinda: «Vejam lá, até parece que não é português!»
(parafraseando BB)
Civicamente, ainda não vi por aí sinais da tão propalada «retoma económica», mas os portugueses, muito civicamente, marimbaram-se para a economia, a inflação, o desemprego, os salários em atraso e outras tantas chatices do nosso espaço social. Tudo porque, civicamente, o futebol se transformou na única razão da sua existência.
Civicamente, a cerveja é agora o vinho da nossa vingança, o Rossio a capital de uma Europa que de repente ficou mais crescida, cívica e futebolizada.
Civicamente, o Iraque e a Casa Pia deixaram de constar no mapa das SIC’s e das TVI’s e os únicos que se safaram, no meio deste «terramoto» em forma de arco-íris, foram o Sousa Tavares e o Marcelo, porque, civicamente, são muito mais espertos que o Prado Coelho, que gosta muito de falar de coisas que não interessam peva ao zé-povinho e depois, civicamente, leva com as críticas do Perestrelo, muito cívico-luso-brasileiras, antes de uma tal segunda batalha de Aljubarrota do século XXI.
Civicamente, o patrão de Mourinho atracou os seus barquitos ali para os lados de Santa Apolónia e os lisboetas andam mortinhos por espreitar o novo czar Abramovich, que, muito civicamente, gosta de misturar caviar com salmonetes de Setúbal, por isso trouxe um helicopterozito para atravessar o Tejo e não ter de sujeitar-se às bichas intermináveis que tantos malefícios causam ao meu amigo Aguinaldo que mora no Fogueteiro.
Civicamente, vem aí o Portugal-Inglaterra e, muito civicamente, estou com os nervos em franja, depois de, muito civicamente, um puto de 18 anos, que dá pelo nome de Rooney, ainda por cima com carinha de imberbe, ter marcado aqueles dois golitos à Croácia, ofuscando, vejam só!, um tal «spice» Beckham.
Civicamente, é isso, um estranho formigueiro invadiu-me nestes últimos dias e, embora tardiamente, amanhã vou a correr comprar uma bandeirinha para colocar na janela. Pelo menos sempre alivio a consciência e, por outro lado, evito os comentários cívicos da minha vizinha Ermelinda: «Vejam lá, até parece que não é português!»
Wednesday, June 09, 2004
Jornalismo e independência
Habituei-me a respeitar os «monstros sagrados» do jornalismo português e não só... Não sei se a comunicação social é ou não o «quarto poder» -- sei, isso sim, que é fundamental para solidificar a democracia, o pluralismo, o direito à diferença.
Não gosto do jornalismo apologético, sensacionalista, subserviente. Ensinaram-me que deve haver equidistância entre o jornalista e a fonte de informação, mas hoje em dia este conceito deu lugar a outro: deve cultivar-se a fonte de informação.
Assim seja! Mas dói ver certos responsáveis editoriais comportarem-se como meninos de coro em relação aos poderes instituídos. Já ninguém os leva a sério. Pode-se vender gato por lebre uma, duas vezes... Mas à terceira o povo desconfia.
Habituei-me a respeitar os «monstros sagrados» do jornalismo português e não só... Não sei se a comunicação social é ou não o «quarto poder» -- sei, isso sim, que é fundamental para solidificar a democracia, o pluralismo, o direito à diferença.
Não gosto do jornalismo apologético, sensacionalista, subserviente. Ensinaram-me que deve haver equidistância entre o jornalista e a fonte de informação, mas hoje em dia este conceito deu lugar a outro: deve cultivar-se a fonte de informação.
Assim seja! Mas dói ver certos responsáveis editoriais comportarem-se como meninos de coro em relação aos poderes instituídos. Já ninguém os leva a sério. Pode-se vender gato por lebre uma, duas vezes... Mas à terceira o povo desconfia.