Sunday, May 30, 2004
Poema para Figo
Pelos campos do mundo senha e signo
ele não desiste e nunca se repete
e em cada rua há um menino
de camisola número sete.
Pelos campos do mundo seu nome é quem nos diz
ele corre e finta e dribla e com seus pés
pelos campos do mundo escreve o seu destino.
Por isso diz-se Figo e é um país
com ele o sonho é português.
Manuel Alegre
Pelos campos do mundo senha e signo
ele não desiste e nunca se repete
e em cada rua há um menino
de camisola número sete.
Pelos campos do mundo seu nome é quem nos diz
ele corre e finta e dribla e com seus pés
pelos campos do mundo escreve o seu destino.
Por isso diz-se Figo e é um país
com ele o sonho é português.
Manuel Alegre
Friday, May 28, 2004
Carta a uma futura jornalista
Pedes-me para escrever um pequeno texto destinado à Escola Secundária da Amadora, onde frequentas o 12.º Ano. Não se faz uma «maldadezinha» destas a um pai... É o mesmo que pedir a um adepto ferrenho do Benfica para falar do Nuno Gomes. Só dirá palavras elogiosas, mesmo que o ponta-de-lança não acerte na baliza há um ror de jogos... Mas aceitei o desafio e aqui estou, a deixar falar o coração...
Quando me disseste que gostarias de tirar um curso de jornalismo, fiquei um pouco apreensivo, devo confessar. Ando «nisto» há muitos anos e sei, por experiência vivida, que as «coisas» não estão fáceis nesta área. Antigamente (vê-se que estou velho...) as verdadeiras escolas de jornalismo eram as Redacções do «Diário Popular», «Diário de Lisboa», «República» e muitos outros, entre os quais «A BOLA» (é bom lembrar). Hoje em dia tudo é diferente. Nasceram imensos cursos universitários de jornalismo (ainda bem) e as Redacções foram inundadas por gente jovem, desejosa de abraçar uma profissão que ainda é, para meu espanto, das mais prestigiadas do país, segundo uma sondagem recente.
As empresas de comunicação social «sorriram». A área de recrutamento alargou-se, os ordenados baixaram e os jovens que ingressam na profissão (os que conseguem) são mal pagos. Apesar disso, pergunto: é legítimo cortar as «asas» (os sonhos) a quem deseja voar? Não é! Mas é preciso ter «unhas» para tocar «viola». Não penses que «isto» é fácil e nunca te esqueças de que a principal «ferramenta» de um jornalista é a língua portuguesa. É fundamental estudá-la bem. Não faças como muitos jovens que seguiram esta via só porque era a mais acessível; porque não conseguiram ingressar noutros cursos. Além da teoria, que é importante, terás de complementá-la com muita leitura e, se possível, escrever todos os dias (para treinar a mão...).
Não desejei assustar-te, mas apenas alertar-te para as «armadilhas da floresta». «Isto» também tem muitas coisas bonitas. Li textos teus e gostei. Acredito mesmo que tens «veia» para seguir jornalismo. Tenho a certeza, aliás, de que serás uma grande jornalista. A melhor do Mundo!
Força! E se um dia precisares de um revisor «à moda antiga», não hesites! Telefona a este «velho» e verás que ele vai a correr limar as arestas da tua escrita.
Pedes-me para escrever um pequeno texto destinado à Escola Secundária da Amadora, onde frequentas o 12.º Ano. Não se faz uma «maldadezinha» destas a um pai... É o mesmo que pedir a um adepto ferrenho do Benfica para falar do Nuno Gomes. Só dirá palavras elogiosas, mesmo que o ponta-de-lança não acerte na baliza há um ror de jogos... Mas aceitei o desafio e aqui estou, a deixar falar o coração...
Quando me disseste que gostarias de tirar um curso de jornalismo, fiquei um pouco apreensivo, devo confessar. Ando «nisto» há muitos anos e sei, por experiência vivida, que as «coisas» não estão fáceis nesta área. Antigamente (vê-se que estou velho...) as verdadeiras escolas de jornalismo eram as Redacções do «Diário Popular», «Diário de Lisboa», «República» e muitos outros, entre os quais «A BOLA» (é bom lembrar). Hoje em dia tudo é diferente. Nasceram imensos cursos universitários de jornalismo (ainda bem) e as Redacções foram inundadas por gente jovem, desejosa de abraçar uma profissão que ainda é, para meu espanto, das mais prestigiadas do país, segundo uma sondagem recente.
As empresas de comunicação social «sorriram». A área de recrutamento alargou-se, os ordenados baixaram e os jovens que ingressam na profissão (os que conseguem) são mal pagos. Apesar disso, pergunto: é legítimo cortar as «asas» (os sonhos) a quem deseja voar? Não é! Mas é preciso ter «unhas» para tocar «viola». Não penses que «isto» é fácil e nunca te esqueças de que a principal «ferramenta» de um jornalista é a língua portuguesa. É fundamental estudá-la bem. Não faças como muitos jovens que seguiram esta via só porque era a mais acessível; porque não conseguiram ingressar noutros cursos. Além da teoria, que é importante, terás de complementá-la com muita leitura e, se possível, escrever todos os dias (para treinar a mão...).
Não desejei assustar-te, mas apenas alertar-te para as «armadilhas da floresta». «Isto» também tem muitas coisas bonitas. Li textos teus e gostei. Acredito mesmo que tens «veia» para seguir jornalismo. Tenho a certeza, aliás, de que serás uma grande jornalista. A melhor do Mundo!
Força! E se um dia precisares de um revisor «à moda antiga», não hesites! Telefona a este «velho» e verás que ele vai a correr limar as arestas da tua escrita.
Tuesday, May 25, 2004
Tempo de poesia
CONCURSO DO MÉTODO
Bem-vindos ao estúdio
onde vai ter lugar
mais uma sessão do concurso do método
mas antes do prelúdio
um breve interlúdio
para a publicidade
Caro telespectador não faça zap
porque nós vamos saber
o olho do grande irmão que em sua casa o vigia
toda a noite, todo o dia
e arrisca-se a perder
o direito de concorrer
ao grande concurso do método
e a pergunta é:
qual é o método que usa para consumir?
sonha por catálogo da tv shop
ou prefere atendimento personalizado
faça uma frase, uma prosa, um poema
e você, aí em casa, basta um telefonema
e ganha um uma viagem ao país dos iglôs,
a Guadalupe, Bermudas e Barbados,
à Lapónia, ao Alaska, aos eternos congelados
e ganha ainda a fantástica
máquina de descascar desejos
... e eis a brilhante vencedora
a D. Berta da Amadora!!!
(O Concurso do Método tem o patrocínio dos
electrodomésticos GRUNFT. Dirija-se a qualquer loja
GRUNFT e adquira já qualquer um dos magníficos
electrodomésticos da gama GRUNFT. GRUNFT com
GRUNFT porque grunfta melhor. GRUNFT!!!)
quando passo numa montra onde tudo é tão bonito
entro logo, faço a compra
vejo logo necessito
eu sinto a falta do tudo
ao que é novo não resisto
só estou bem a consumir e se consumo logo existo
é assim quando consumo
o Visa corre entre carris
sinto-me assim não sei como, a modos que leve e feliz
prazer puro, entusiasmo
dura pouco, vai para o lixo
muito perto do orgasmo
muito além do capricho
(E leve ainda 101 contos para pôr no seu porquinho
mealheiro. Mais uma magnífica e inultrapassável oferta
das lojas GRUNFT!)
CARLOS TÊ
CONCURSO DO MÉTODO
Bem-vindos ao estúdio
onde vai ter lugar
mais uma sessão do concurso do método
mas antes do prelúdio
um breve interlúdio
para a publicidade
Caro telespectador não faça zap
porque nós vamos saber
o olho do grande irmão que em sua casa o vigia
toda a noite, todo o dia
e arrisca-se a perder
o direito de concorrer
ao grande concurso do método
e a pergunta é:
qual é o método que usa para consumir?
sonha por catálogo da tv shop
ou prefere atendimento personalizado
faça uma frase, uma prosa, um poema
e você, aí em casa, basta um telefonema
e ganha um uma viagem ao país dos iglôs,
a Guadalupe, Bermudas e Barbados,
à Lapónia, ao Alaska, aos eternos congelados
e ganha ainda a fantástica
máquina de descascar desejos
... e eis a brilhante vencedora
a D. Berta da Amadora!!!
(O Concurso do Método tem o patrocínio dos
electrodomésticos GRUNFT. Dirija-se a qualquer loja
GRUNFT e adquira já qualquer um dos magníficos
electrodomésticos da gama GRUNFT. GRUNFT com
GRUNFT porque grunfta melhor. GRUNFT!!!)
quando passo numa montra onde tudo é tão bonito
entro logo, faço a compra
vejo logo necessito
eu sinto a falta do tudo
ao que é novo não resisto
só estou bem a consumir e se consumo logo existo
é assim quando consumo
o Visa corre entre carris
sinto-me assim não sei como, a modos que leve e feliz
prazer puro, entusiasmo
dura pouco, vai para o lixo
muito perto do orgasmo
muito além do capricho
(E leve ainda 101 contos para pôr no seu porquinho
mealheiro. Mais uma magnífica e inultrapassável oferta
das lojas GRUNFT!)
CARLOS TÊ
Thursday, May 20, 2004
As duas faces do futebol
Viver na pobreza, na desolação e na fome. É esta a triste realidade de muitos jovens jogadores africanos. Treinam-se em pelados, sem condições, sem equipamentos, mas guardam no íntimo a esperança de um dia se tornarem famosos como Weah, Milla, Kanu...
Muitos caem no logro de empresários sem escrúpulos, que prometem contratos com grandes clubes europeus, mas são raros os jovens jogadores africanos que o conseguem. Os outros ficam na miséria, em países como a Bélgica, a Itália, a Espanha... Chamam a este fenómeno (que atinge milhares de atletas, quase todos na adolescência) a «escravatura moderna».
No congresso da FIFA, em Paris, Danny Jordaan pôs o dedo na ferida e espera que o facto de o Campeonato do Mundo de 2010 se realizar na África do Sul contribua para que esta triste realidade seja erradicada. «Temos de construir, em África, uma base sólida para que os nossos jogadores não saiam dos seus países em busca de um sonho que, na maior parte dos casos, se transforma em pesadelo. A FIFA tem de criar mecanismos que permitam seguir cada jogador desde a sua origem até à Europa. É preciso fazer tudo para afastar agentes sem escrúpulos que se aproveitam da inocência dos nossos atletas. Em suma, a FIFA não pode permitir que haja escravatura de futebolistas africanos na Europa em pleno século XXI. Não podemos desumanizar o futebol.» [«A BOLA»]
Viver na pobreza, na desolação e na fome. É esta a triste realidade de muitos jovens jogadores africanos. Treinam-se em pelados, sem condições, sem equipamentos, mas guardam no íntimo a esperança de um dia se tornarem famosos como Weah, Milla, Kanu...
Muitos caem no logro de empresários sem escrúpulos, que prometem contratos com grandes clubes europeus, mas são raros os jovens jogadores africanos que o conseguem. Os outros ficam na miséria, em países como a Bélgica, a Itália, a Espanha... Chamam a este fenómeno (que atinge milhares de atletas, quase todos na adolescência) a «escravatura moderna».
No congresso da FIFA, em Paris, Danny Jordaan pôs o dedo na ferida e espera que o facto de o Campeonato do Mundo de 2010 se realizar na África do Sul contribua para que esta triste realidade seja erradicada. «Temos de construir, em África, uma base sólida para que os nossos jogadores não saiam dos seus países em busca de um sonho que, na maior parte dos casos, se transforma em pesadelo. A FIFA tem de criar mecanismos que permitam seguir cada jogador desde a sua origem até à Europa. É preciso fazer tudo para afastar agentes sem escrúpulos que se aproveitam da inocência dos nossos atletas. Em suma, a FIFA não pode permitir que haja escravatura de futebolistas africanos na Europa em pleno século XXI. Não podemos desumanizar o futebol.» [«A BOLA»]
Friday, May 14, 2004
BICADAS
Ora aqui está mais um «naco» de prosa de se lhe tirar o chapéu! Uma amiga recente do «escrita» diria que se trata de um texto «obstrôncio», mas não vale a pena recorrer ao dicionário, porque o palavrão não está registado...
Uma época «à beira de fechar os taipais»!!! Esta relíquia vai, por certo, ficar na história do jornalismo desportivo português... Isto para já não falar na forma («obstrôncia») como a notícia está construída...
Se este é o jornalismo desportivo português, eu quero ser espanhol!!!
Paíto prefere ser emprestado
Ainda em San José, onde realizou uma exibição que não deixou de dar, mais uma vez, boas indicações quanto a um futuro promissor, Paíto expressou a vontade de, em última instância, representar outro emblema na próxima temporada, naturalmente na condição de emprestado.
A questão prende-se com o facto de o internacional moçambicano desejar jogar com maior frequência, e não duas ou três vezes por época, como aconteceu na que está à beira de fechar os taipais, pelo que (é o que pensa neste momento...) se dispõe a falar com a SAD e «logo se verá o que daí resulta».
Para Paíto, «aborrecido mesmo» é a possibilidade de continuar mais uma época como suplente. Mas deixa o aviso -- que não será mais que uma clara demonstração de confiança no seu valor -- de que, no caso de ser emprestado, sê-lo «apenas a uma equipa da SuperLiga».
«A BOLA»
Ora aqui está mais um «naco» de prosa de se lhe tirar o chapéu! Uma amiga recente do «escrita» diria que se trata de um texto «obstrôncio», mas não vale a pena recorrer ao dicionário, porque o palavrão não está registado...
Uma época «à beira de fechar os taipais»!!! Esta relíquia vai, por certo, ficar na história do jornalismo desportivo português... Isto para já não falar na forma («obstrôncia») como a notícia está construída...
Se este é o jornalismo desportivo português, eu quero ser espanhol!!!
Paíto prefere ser emprestado
Ainda em San José, onde realizou uma exibição que não deixou de dar, mais uma vez, boas indicações quanto a um futuro promissor, Paíto expressou a vontade de, em última instância, representar outro emblema na próxima temporada, naturalmente na condição de emprestado.
A questão prende-se com o facto de o internacional moçambicano desejar jogar com maior frequência, e não duas ou três vezes por época, como aconteceu na que está à beira de fechar os taipais, pelo que (é o que pensa neste momento...) se dispõe a falar com a SAD e «logo se verá o que daí resulta».
Para Paíto, «aborrecido mesmo» é a possibilidade de continuar mais uma época como suplente. Mas deixa o aviso -- que não será mais que uma clara demonstração de confiança no seu valor -- de que, no caso de ser emprestado, sê-lo «apenas a uma equipa da SuperLiga».
«A BOLA»
Thursday, May 13, 2004
BICADAS
O «escrita-em-dia» não pretende arvorar-se em defensor do perfeccionismo, mas também não cala a revolta quando se lhe deparam certos textos que nem o jornal paroquial da freguesia de Sobreira Formosa (com o devido respeito) se atreveria a publicar. Como é possível redigir tão mal uma simples notícia? Das vírgulas aos tempos verbais, passando pela construção da notícia (só no fim ficamos a saber que, afinal, Quiroga «fracturou os ossos próprios do nariz»...) -- uma autêntica lástima!
Este é um dos exemplos que bem poderiam ser incluídos nos manuais de (mau) jornalismo, numa rubrica assim designada: «Como não se deve construir uma notícia».
Quiroga fractura nariz
Esta última época, para Quiroga, não tem sido feliz. Nem para ele, nem para o Sporting, por reflexo.
Após o jogo, Fernando Santos deixara entender que algo complicado se passaria com o internacional argentino, ele que, já próximo dos 90 minutos, ficara estatelado no relvado, agarrado ao nariz. Recebeu assistência fora das quatro linhas e, daí a pouco, seria substituído por Diogo.
Depois de o treinador falar com os jornalistas, foi Virgílio Abreu, médico do clube, quem fez o ponto da situação clínica do jogador. Ficou assim a saber-se que Quiroga, num choque com um adversário, «fracturou os ossos próprios do nariz», lesão que, ainda segundo o médico dos leões, poderá impedir a sua utilização nos três jogos que ainda falta cumprir desta digressão.
Como diz o povo, um azar nunca vem só...
(«A BOLA»)
O «escrita-em-dia» não pretende arvorar-se em defensor do perfeccionismo, mas também não cala a revolta quando se lhe deparam certos textos que nem o jornal paroquial da freguesia de Sobreira Formosa (com o devido respeito) se atreveria a publicar. Como é possível redigir tão mal uma simples notícia? Das vírgulas aos tempos verbais, passando pela construção da notícia (só no fim ficamos a saber que, afinal, Quiroga «fracturou os ossos próprios do nariz»...) -- uma autêntica lástima!
Este é um dos exemplos que bem poderiam ser incluídos nos manuais de (mau) jornalismo, numa rubrica assim designada: «Como não se deve construir uma notícia».
Quiroga fractura nariz
Esta última época, para Quiroga, não tem sido feliz. Nem para ele, nem para o Sporting, por reflexo.
Após o jogo, Fernando Santos deixara entender que algo complicado se passaria com o internacional argentino, ele que, já próximo dos 90 minutos, ficara estatelado no relvado, agarrado ao nariz. Recebeu assistência fora das quatro linhas e, daí a pouco, seria substituído por Diogo.
Depois de o treinador falar com os jornalistas, foi Virgílio Abreu, médico do clube, quem fez o ponto da situação clínica do jogador. Ficou assim a saber-se que Quiroga, num choque com um adversário, «fracturou os ossos próprios do nariz», lesão que, ainda segundo o médico dos leões, poderá impedir a sua utilização nos três jogos que ainda falta cumprir desta digressão.
Como diz o povo, um azar nunca vem só...
(«A BOLA»)
Wednesday, May 12, 2004
Tempo de poesia
Aqui deixo mais dois poeminhas de Ramos Rosa:
Na grande confusão deste medo
deste não querer saber
na falta de coragem
ou na coragem de
me perder me afundar
perto de ti tão longe
tão nu tão evidente
tão pobre como tu
oh diz-me quem sou eu
quem és tu?
***
Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo da algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.
Aqui deixo mais dois poeminhas de Ramos Rosa:
Na grande confusão deste medo
deste não querer saber
na falta de coragem
ou na coragem de
me perder me afundar
perto de ti tão longe
tão nu tão evidente
tão pobre como tu
oh diz-me quem sou eu
quem és tu?
***
Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo da algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.
Thursday, May 06, 2004
Plagiai-vos uns aos outros!!!
Um dos casos recentes mais badalados de plágio teve como protagonista Clara Pinto Correia, em Maio do ano passado, quando publicou na revista «Visão» um artigo assinado que mais não era que a cópia quase integral do texto de um reconhecido «opinion maker» norte-americano, publicado na revista «The New Yorker». No melhor pano cai a nódoa e todos nós, os que até gostávamos de ler as prosas da reconhecida bióloga, ficámos um pouco desiludidos. A Clarinha desculpou-se, dizendo que se tratou de «distracção», mas não convenceu os fiéis leitores.
Um pouco mais terra a terra, fiquei pasmado com o que passou uma destas noites. Já me tinham avisado de que eram frequentes os copianços «à letra» dos noticiários de «A Bola on-line». Desta vez tive oportunidade de confirmar.
Só numa noite, testemunhei três copianços! O primeiro foi na Antena Um, no noticiário desportivo das 23.30 h. O «locutor» leu palavra por palavra uma notícia que minutos antes um dos meus companheiros de trabalho tinha elaborado para o nosso «site». Sem citar a fonte, coisa elementar nas regras do jornalismo.
Mas não ficou por aqui o copianço... Mais atento que eu a estas coisas, o SP mostrou-me, quase de seguida, uma notícia que eu próprio redigi e o escriba de serviço do site «desporto digital» colocou no ar, também sem citar a fonte.
Mas há mais... O site oficial do Sporting alinhou pelo mesmo critério, não esteve com meias-medidas e publicou uma notícia nossa, também sem citar a fonte. Tudo isto no espaço de três horas...
Todos falhamos. A pressão, por vezes, é grande e queremos ser os primeiros a dar a notícia, mas...
... ao menos citem as fontes!!!
Um dos casos recentes mais badalados de plágio teve como protagonista Clara Pinto Correia, em Maio do ano passado, quando publicou na revista «Visão» um artigo assinado que mais não era que a cópia quase integral do texto de um reconhecido «opinion maker» norte-americano, publicado na revista «The New Yorker». No melhor pano cai a nódoa e todos nós, os que até gostávamos de ler as prosas da reconhecida bióloga, ficámos um pouco desiludidos. A Clarinha desculpou-se, dizendo que se tratou de «distracção», mas não convenceu os fiéis leitores.
Um pouco mais terra a terra, fiquei pasmado com o que passou uma destas noites. Já me tinham avisado de que eram frequentes os copianços «à letra» dos noticiários de «A Bola on-line». Desta vez tive oportunidade de confirmar.
Só numa noite, testemunhei três copianços! O primeiro foi na Antena Um, no noticiário desportivo das 23.30 h. O «locutor» leu palavra por palavra uma notícia que minutos antes um dos meus companheiros de trabalho tinha elaborado para o nosso «site». Sem citar a fonte, coisa elementar nas regras do jornalismo.
Mas não ficou por aqui o copianço... Mais atento que eu a estas coisas, o SP mostrou-me, quase de seguida, uma notícia que eu próprio redigi e o escriba de serviço do site «desporto digital» colocou no ar, também sem citar a fonte.
Mas há mais... O site oficial do Sporting alinhou pelo mesmo critério, não esteve com meias-medidas e publicou uma notícia nossa, também sem citar a fonte. Tudo isto no espaço de três horas...
Todos falhamos. A pressão, por vezes, é grande e queremos ser os primeiros a dar a notícia, mas...
... ao menos citem as fontes!!!
Tuesday, May 04, 2004
Ser jornalista
Em 1994, Adelino Gomes definiu os jornalistas com maiores dificuldades em exercer a profissão. «O jornalismo português tem três heróis: um é individual e vou nomeá-lo – Tolentino da Nóbrega, que há 20 anos é correspondente dos jornais do continente na Madeira e que, por tudo o que já fez, bem merecia a Ordem da Liberdade; o segundo é o conjunto de jornais e jornalistas dignos desse nome na imprensa regional portuguesa; o terceiro é o conjunto de jornais e jornalistas dignos desse nome na imprensa desportiva.» A estes é possível acrescentar um outro grupo: os que trabalham na área do desporto em órgãos de informação regionais.
***
Na generalidade das profissões o erro é privado. Muitas vezes individual ou limitado ao colectivo de uma empresa ou serviço. Num jornal, uma simples gralha, quantas vezes alheia ao jornalista, provoca irritação, riso, comentário público. A exposição é o quotidiano de quem tem por função informar e contar histórias aos outros.
***
Nenhum leitor está interessado em saber se o jornalista dormiu pouco, correu muito ou esteve a ponto de ser agredido ou levar um tiro para obter aquele conjunto de palavras e imagens. Não raro, as dificuldades nascem e morrem com ele. De facto, só ao jornalista interessam.
***
Um sinal de pontuação altera o sentido de uma frase. Depois de impresso, o erro multiplica-se. Pode ser emendado na edição seguinte, mas a reparação nunca terá a força do texto inicial. E quem leu o primeiro pode nem dar pelo segundo.
***
Em jornalismo, escrever bem é tudo menos somar palavras bonitas, complicadas, longas.
***
A informação desportiva pressupõe saber específico, mas nisso é igual a qualquer outra.
(Excertos do livro «Introdução ao Jornalismo Desportivo», da autoria de Luís Sobral e Pedro Magalhães, numa edição conjunta do Cenjor e do CNID, Agosto de 1999)
Em 1994, Adelino Gomes definiu os jornalistas com maiores dificuldades em exercer a profissão. «O jornalismo português tem três heróis: um é individual e vou nomeá-lo – Tolentino da Nóbrega, que há 20 anos é correspondente dos jornais do continente na Madeira e que, por tudo o que já fez, bem merecia a Ordem da Liberdade; o segundo é o conjunto de jornais e jornalistas dignos desse nome na imprensa regional portuguesa; o terceiro é o conjunto de jornais e jornalistas dignos desse nome na imprensa desportiva.» A estes é possível acrescentar um outro grupo: os que trabalham na área do desporto em órgãos de informação regionais.
***
Na generalidade das profissões o erro é privado. Muitas vezes individual ou limitado ao colectivo de uma empresa ou serviço. Num jornal, uma simples gralha, quantas vezes alheia ao jornalista, provoca irritação, riso, comentário público. A exposição é o quotidiano de quem tem por função informar e contar histórias aos outros.
***
Nenhum leitor está interessado em saber se o jornalista dormiu pouco, correu muito ou esteve a ponto de ser agredido ou levar um tiro para obter aquele conjunto de palavras e imagens. Não raro, as dificuldades nascem e morrem com ele. De facto, só ao jornalista interessam.
***
Um sinal de pontuação altera o sentido de uma frase. Depois de impresso, o erro multiplica-se. Pode ser emendado na edição seguinte, mas a reparação nunca terá a força do texto inicial. E quem leu o primeiro pode nem dar pelo segundo.
***
Em jornalismo, escrever bem é tudo menos somar palavras bonitas, complicadas, longas.
***
A informação desportiva pressupõe saber específico, mas nisso é igual a qualquer outra.
(Excertos do livro «Introdução ao Jornalismo Desportivo», da autoria de Luís Sobral e Pedro Magalhães, numa edição conjunta do Cenjor e do CNID, Agosto de 1999)